quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Eu te desafio

I dare you, to be real
To touch a flickering flame
The pangs of dark delight
Don't cower in night fright

Double Dare – Bauhaus


Eu te desafio a fazer uma página viver. A fazer uma página sangrar mentiras que levem a alguma verdade. Eu te desafio a ouvir a voz do fogo e criar moldar encantar a partir da combustão de suas próprias ideias sentimentos desejos. Eu te desafio a destruir e criar num ciclo sem fim (a serpente que morde a cauda que é mordida pela serpente que morde a cauda que é mordida pela serpente...).

Eu te desafio a mergulhar no abismo do medo. A fitar o olhar repleto de vazio do medo. A aspirar a fragrância suavemente apodrecida do medo. A sentir o toque morno do medo. A provar o gosto amargo do medo. A ouvir a sinfonia monótona do medo. Eu te desafio a engolir o medo digerir o medo e metabolizar algo novo a partir do maldito medo: eu te desafio a ser mais do que sua autopreservação.

Eu te desafio a conjugar o verbo amar com a sinceridade pontiaguda que apenas podem ter aqueles cujo coração foi abençoado amaldiçoado por inúmeras cicatrizes: aqueles que têm a sabedoria tortuosa que só aos loucos é permitida porque só eles entendem que uma bifurcação na estrada não é uma simples questão de escolher excluir, mas a oportunidade de criar um outro caminho.

Eu te desafio a sonhar sua vida e a viver seu sonho porque o sonho é o sopro do verbo divino que a anima o barro do pragmatismo. Eu te desafio a aceitar que sua racionalidade é uma ilusão tão ilusória que precisa ser inculcada em sua cabeça desde a escola: eu te desafio a aceitar que não é um ser racional, mas um ser simbólico.

Eu te desafio a fazer a travessia pelo prazer da travessia, a aprender sem se preocupar com o uso prático do que aprende, a estar no meio, a estar no espaço entre: eu te desafio a estar nas mil nuances de cinza que existem entre o mais profundo preto e o mais profundo branco, porque o maniqueísmo é uma ilusão.

Eu te desafio a se machucar, a se magoar, a se queimar. Eu te desafio a não ter um sorriso coagulado um espírito encarcerado um sonho pasteurizado: eu te desafio a desprezar com todas as suas forças o verniz de perfeição que todos tentam ter.

Eu te desafio a ser real, seu maldito filho da puta, ah, eu te desafio...

2 comentários:

  1. Difícil encarar esse desafio, hein? Belíssimo texto, tipo soco no estômago. Bom pra começar a minha segunda-feira. Pra me desafiar, nessa segunda-feira.
    Continue, garoto! Quero mais....

    ResponderExcluir
  2. Ser possível, ser humano, ser real... Mas não, são todos semi-deus! Arre!

    ResponderExcluir